sábado, 23 de novembro de 2013

Desafiando Monstros


Quando eu tinha quatorze anos tive que morar longe de meus pais para estudar. Fui morar com um tio que viajava alguns fins de semana para encontrar com a esposa, que na época, trabalhava em outra cidade. Nesses fins de semana geralmente eu ia dormir na casa de minha avó.
Num determinado fim de semana meu tio viajou e eu decidi ficar em casa. Claro que não contei nada a ele. Aquele dia imaginei como meu, afinal, iria ficar com a casa toda para mim. Poderia ir dormir tarde assistindo televisão. Essa era minha idéia de liberdade naquele tempo.
Aproveitei para dormir no quarto dele que tinha TV e me deleitei com os programas. Acabei dormindo. Lá para as três horas da madrugada acordei com a TV. Meio sonolenta, desliguei-a para dormir. Nesse momento, ouvi um barulho estranho lá fora. Levantei de um salto e acendi a luz. O barulho parou. Apaguei a luz e voltei a cama. Meio assustada tentei dormir, no entanto ouvi outro barulho e os cachorros latindo lá fora.
Eu estava sozinha em casa... e agora? Levantei-me e acendi a luz novamente, mas agora de toda a casa. Imagine o meu medo. Fui até a cozinha, peguei uma faca, pois pensei: ...se um ladrão entrar aqui eu vou me defender.
Fiquei na sala fazendo oração, pedindo proteção, quando lembrei que no quarto do meu tio tinha uma Bíblia e pensei em lê-la para afastar o mal que estava me rondando. Quando cheguei ao quarto, já com a Bíblia nas mãos, ouvi um barulho de alguém tentando arrombar a janela do quarto. Naquele momento o desespero tomou conta, joguei a Bíblia num canto e saí correndo até a cozinha.
Acendi a luz do quintal, abri o vitrô para ver se tinha alguém lá fora. Não vi nada. Abri a porta e escalei um muro alto de estacas pontiagudas, numa super velocidade (até hoje não sei como fiz isso) e fui parar na porta do quintal de minha vizinha:
– Dona Josefa, Dona Josefa!!!* Abre aqui por favor! – Imaginem o susto de Dona Josefa, com alguém as três da manhã chamando por ela.
– Quem é ?
– Sou eu Dona Josefa, Naiara. Tem um ladrão querendo invadir minha casa. Deixa eu entrar por favor!!!
Dona Josefa prontamente levantou-se correndo e veio abrir a porta do quintal. Imediatamente me acolheu e foi acordar o marido relatando o acontecido. Seu marido, valente que era, pegou um facão e foi lá fora para enfrentar o ladrão. Naquele momento eu estava aterrorizada. O ladrão iria invadir a casa de Dona Josefa também e matar a todos nós. Ai, ai ...
O Sr. Manoel* abriu a porta com o facão em punho, em posição de combate e foi averiguar. Eu e a Dona Josefa é claro, estávamos tensas e concentradas em nossas preces.
                Alguns minutos depois o Sr. Manoel retorna, olha para minha cara e diz: – É só a Meg (cachorrinha) que entrou na área de sua casa e outros cachorros que estão tentando entrar também.
Que mico. Passei um sufoco danado, peguei faca, escalei um muro de estacas, onde poderia ter sofrido um grave acidente, incomodei vizinhos as três da madrugada, simplesmente por causa de uma cachorrinha.
Essa história é só para ilustrar o que chamo de Monstros Imaginários. Eles são problemas, preocupações, que existem apenas na mente, mas que crê-se sinceramente que são reais. Eles surgem especialmente em virtude da baixo estima. Desconfia-se de tudo e de todos por algo que está apenas na cabeça.
Se uma pessoa amiga, que está distraída no ônibus passa e não cumprimenta - Ela me odeia.
Pode ser uma simples pergunta sobre um perfume qualquer que uma pessoa quer comprar - Será que ela acha que estou com mau cheiro?
Alguém gentil oferece uma bala? - Está achando que estou com mau hálito.
Alguém pede ajuda a pessoa que naquele momento está mais próxima. – Como ela pediu ajuda aquela pessoa, se eu sou especialista no assunto?
Esses Monstros Imaginários corroem a confiança em si e nos que estão ao redor, além de deixar o mundo sombrio. Afinal, na mente daqueles que desenvolvem estes monstros, boa parte das pessoas não lhe querem bem. O que é uma postura perigosa, pois neste ciclo, é possível machucar alguém, inclusive a si mesmo.
O que posso falar para aqueles que enfrentam esse tipo de problema é: trabalhem para desenvolver a auto-estima, a auto-confiança, pois mesmo que qualquer critica, desaprovação, falta de gentileza exista, isso não terá muita importância, pois você se ama.
Se por acaso, você não consegue destruir e se livrar desses monstros sozinho(a), não se preocupe, peça ajuda. Na vida nem tudo conseguimos fazer sem auxilio e com certeza aqueles que te querem bem te ajudarão, nem que seja apenas para te mostrar que é apenas uma cachorrinha assustada na porta de sua casa como aconteceu comigo.

*Os nomes foram mudados.





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